Muito aguardada e agora realizada a posse do Presidente Argentino Mauricio Macri dá a todos nós, um certo alento as perspectivas futuras da região. De acordo com as propostas apresentadas durante a campanha, Macri, deverá implementar três ajustes principais na política econômica do país, sendo eles:
- Taxa de câmbio;
- Quadro fiscal; e
- Inflação.
Espera-se também uma nova orientação nas políticas de comércio internacional, com efeitos diretos na economia brasileira e também nas políticas setoriais. Aguardamos, os primeiros efeitos de recuperação da economia argentina já para o fim de 2016.
O novo governo deverá retirar as restrições existentes para a compra de dólares e para as importações de bens e serviços, mas o Banco Central não conta com reservas. Hoje, a taxa de câmbio oficial está muito apreciada em termos reais. Para limitar a desvalorização que ocorrerá, o governo tem que tratar de aumentar a oferta de dólares no mercado. Para isso, deve ocorrer alguma negociação com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o qual poderia fazer um empréstimo ao país. Outro instrumento a ser utilizado pelo governo para acumular divisas prevê a utilização de estoques de produtos agrícolas mantidos por produtores à espera de uma taxa de câmbio mais depreciada para sua comercialização.
A liberalização do mercado de divisas deve levar ao governo eleito a renegociar com os holdouts (fundos que não aderiram à renegociação da dívida). A aprovação de mudanças nos termos de renegociação de débitos não pagos pelo governo argentino depende de mudanças de lei aprovadas pelo Congresso e quanto a isso pode existir um problema no horizonte imediato, pois o presidente eleito não possui maioria no Legislativo e precisará de muita habilidade na articulação política para aprovar medidas na casa.
Quanto ao quadro fiscal, a Argentina apresenta um desequilíbrio ainda maior nas finanças públicas do que o temos no Brasil. O país deverá registrar um deficit primário de 4,3% do PIB em 2015, de acordo com a consultoria Ecolatina.
A reversão do resultado deficitário nas contas públicas dificilmente ocorrerá com aumento de arrecadação, haja vista que a expectativa é de contração do PIB para 2016, assim como via aumento de tributos, dado que a carga tributária já é de 34% do PIB. As finanças públicas da Argentina deverão continuar em situação de desequilíbrio no curto prazo. Algumas medidas pontuais como a retirada de subsídios, que representam 5 pontos percentuais do PIB, podem ser implementadas, principalmente sobre as classes mais ricas.
O último aspecto relevante para a condução da política monetária pelo governo eleito na Argentina é a inflação. O fato de o câmbio e várias tarifas públicas estarem fora do lugar implica a necessidade de se promover uma correção de preços relativos, nos moldes como praticado pelo governo brasileiro a partir do início de 2015.
Consultorias independentes estimam que a inflação argentina esteja hoje em torno de 25% ao ano. Considerando um pass-through de aproximadamente 50%, a inflação no país poderá chegar a 40% no fim de 2016. A realidade inflacionária da Argentina, portanto, impõe o desafio ao novo governo de implantar um plano anti-inflacionário crível no curto prazo.
No plano externo, a eleição de um governo conservador sinaliza uma visão mais pró-mercado nas relações comerciais da Argentina. Espera-se que as restrições impostas para importações sejam revogadas e que o comércio com importantes parceiros, como o Brasil, seja retomado. A agenda de acordos de livre comércio deverá ganhar destaque, especialmente o acordo de comércio negociado entre o Mercosul e a União Europeia. Posteriormente, acordos do bloco econômico com os EUA e a entrada na aliança do Pacifico podem ser viabilizados.
Para as empresas exportadoras brasileiras, a eleição de Mauricio Macri representa boas oportunidades. Em torno de 20% das importações argentinas são provenientes do Brasil, das quais cerca de 90% são produtos manufaturados. Alguns setores influenciados pela retomada do comércio bilateral entre os países são o automotivo, alimentos e bebidas, calçados, têxtil, entre outros.
Em termos setoriais, espera-se que o novo governo argentino implemente políticas industriais mais horizontais, de modo que intervenções microeconômicas sejam retiradas. Os produtores de alimentos devem se beneficiar com a aproximação ao Brasil em razão do aumento do poder de negociação com demais blocos econômicos. O imposto de exportação de soja deverá cair.
Considerando os inúmeros desafios colocados ao novo governo argentino e a partir das últimas crises experimentadas pelo país, espera-se que a recuperação da economia ocorra a partir do fim de 2016. O conjunto de medidas a ser implantado pelo governo é mais harmonioso do que o introduzido pelo governo brasileiro devido à melhor integração esperada entre as políticas monetária, cambial e fiscal. O impacto sobre a confiança de empresas e consumidores tende a ser relevante do ponto de vista da credibilidade do governo e, por consequência, sobre o crescimento.
Carlos Fernandes é especialista em comércio exterior e câmbio com mais de 30 anos de experiência. Foi executivo dos bancos: Banco da Bahia de Investimentos, SN Crefisul (Citibank), Banco Bozano Simonsen, Credit Lyonnais “BFB”; e das corretoras: Hoya, Miata (corretora de câmbio, Importadora e Exportadora), Renova, PREVIBANK S.A. DTVM, Concordia S.A. DTVM. Foi também fundapiano (ES).
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